(8) Co-laborando um texto à seis mãos
Para compreender a lógica do trabalho co-laborativo é fundamental exercitá-lo, adentrar o universo de diferentes olhares e subjetividades enredadas na/em produção de textos.
Objetivando vivenciar o entrelaçamento de nossas diferentes trilhas na Academia, nós decidimos escrever esse texto à seis mãos, utilizando a mediação do processador de textos word,[1] do correio eletrônico e da temática da co-laboração na/em Rede.
Iniciamos o processo de interlocução tomando como ponto de partida um texto produzido por um de nós sobre aspectos do trabalho colaborativo na Web. Este documento foi então socializado e começaram a ser delineadas novas possibilidades de leitura/escritura do material originalmente produzido de modo solitário.
Acréscimos, supressões, transformações na formatação do texto e mudanças no curso do pensamento que era seguidamente materializado através da escrita evidenciaram-se. Revelaram-se ressignificações de enunciados e emergiram comentários vários que sinalizavam novos percursos significantes.
Elos que nos permitiram experimentar diferentes perspectivas de abordagem à co-laboração de sentidos foram forjados e negociados. Assim, em um processo de ir e vir, de de-vir, o texto foi se metamorforseando, crescendo, expandindo-se em direção da alteridade, da “outridade.”
O documento tomava enfim novas formas e redimensionava-se desta maneira a co-produção de conteúdos dialeticamente. A atividade co-laborativa de produção de sentido à seis mãos concretizava processos genuínos de crescimento pessoal e desenvolvimento cultural dos enredados na/pela tarefa. Entre nós co-autores, o de-vir inexorável se impunha: aquela distância entre o que somos e o que estamos nos tornando.
Palavras, imagens, cores e sons semeados – mas também colhidos - na/em Rede. Tudo isso aparecendo na tela de cristal líquido dos nossos computadores pessoais - extensões de nós mesmos, nós outros.
Os atuais e potenciais usos pedagógicos e criativos que faremos em parceria, leitores/co-autores deste material, nos dirá sempre algo mais e de novo através dos rastros recônditos das nossas caminhadas erráticas no movimento do saber-fazer sentido – pistas imateriais... Enfim vestígios inscritos em nossas próprias carnes e mente social compartida; cacos de muitos saberes e diferentes conhecimentos estilhaçados pelo impacto educativo das TIC.
O discurso aqui produzido encontra-se aguardando a sua co-laboração emirec, como numa espécie de show inacabado que não pode parar.
Trata-se de apresentar portanto um objeto de aprendizado fundamentalmente mediado pela linguagem cyborg/concreta – uma metalinguagem digital, criptografada pelos programas editores de hipertextos,
Neste processo initerrupto de apropriação e co-construção coletiva de uma “inteligência” comum revela-se o processo de emancipação social da/em mente.
Co-laborar em/na Rede é sobretudo desapegar-se do sentimento de posse privada e exclusiva do conhecimento; é compartilhar a autoria e o processo de autorização das subjetividades, suprimindo as cercas teóricas e os muros epistêmicos que nos separam e isolam como especialistas de/em áreas distintas do conhecimento.
Compartilhar nossos pomares, hortas e jardins metacognitivos é sem dúvida expor humildemente nossos frágeis brotos intelectuais aos cuidados de companheiros mais experientes em percursos nem sempre muito conhecidos por nós na Universidade, na Academia, na existência cotidiana.
Como professores ensinantes-aprendentes que somos, vivenciar a co-laboração deste documento na Uneb foi, tem sido e será, uma experiência inesquecível e rica em oportunidades para alcançarmos melhor desempenho profissional em nossa atividade acadêmico-docente e maior (re)conhecimento pessoal de/em nossas vidas públicas e privadas.
Inicialmente, no item (1), buscou-se expor de modo rápido a emergência da pós-modernidade destacando as conquistas tecnológicas que contribuíram para a instalação da cultura da atividade co-laborativa na/em a Rede típica da contemporaneidade.
Em seguida, no item (2), procurou-se apresentar os princípios sócio-histórico e culturais enredados na atividade co-laborativa sinalizando algumas de suas implicações pedagógicas e educacionais.
No item (3) buscou-se delinear a atividade pedagógica como potencializadora de práticas instituíntes alicerçadas em processos colaborativos próprios das redes digitais.
O item (4) procurou demonstrar de que modo o aprendizado contínuo e autônomo do sujeito ocorre numa CVA na/em Rede emancipando-o intelectualmente.
Aprofundando uma particular abordagem à temática da co-laboração, o item (5) tratou de discutir aspectos da atividade colaborativa e cooperativa situando-a diacronicamente.
Já no item (6) discorreu-se sobre a dimensão co-laborativa implicada na (re)criação dos programas livres para computadores, destacando-se a proliferação de CVAs sob a égide de um objetivo comum.
No item (7) apresentaram-se algumas interfaces assíncronas e síncronas otimizadoras da co-laboração na WEB problematizando-se seus respectivos limites pedagógicos e possibilidades educativas.
Por fim, elencaram-se alguns aspectos afetivos e desenvolvimentais relativos à vivência e co-autoria de um hipertexto didático à seis mãos.
Próximas páginas:
(2) Fundamentos histórico-culturais da atividade co-laborativa
(3) Desafios contemporâneos à co-laboração na/em Rede
(4) Co-laborando o aprendizado autônomo
(6) A co-laboração de/em programas livres
(7) Interfaces otimizadoras da co-laboração na/em Rede
(8) Co-laborando um texto à seis mãos
[1] Para conhecer mais sobre o impacto no psiquismo humano do uso pedagógico dos programas editores de texto consultar FREIRE, Fernanda Mª P. (2003) “Escrita/Leitura e computadores: o uso do editor de texto na escola” In: ALMEIDA, Mª E. B. de e outros (Orgs.) Educação a distância via Internet. São Paulo: Avercamp, p. 151-162 e HERNANDES, Vitória Kachar (2003) “Realização de projetos baseados em texto”. In: ALMEIDA, Mª E. B. de e outros (Orgs.) Educação a distância via Internet. São Paulo: Avercamp, p. 87-97.