2. Percepção da interatividade e ferramentas interativas (em espaços virtuais)

Para conhecermos mais sobre os atuais locus de construção do conhecimento, os AVAs e as CVs, faz-se necessário abordarmos alguns aspectos da sua constituição. Para isso, optamos por tratar aqui da Interatividade presente nos ambientes e, por conseguinte, nas comunidades virtuais de aprendizagem, visto que as ferramentas disponibilizadas nesses ambientes necessitam ter um nível de interatividade tal que auxiliem no desenvolvimento do processo de aprendizagem e/ou relacionamento que ocorre nesses espaços.

É interessante dizer que o termo interatividade não é algo proveniente da era digital. A Interatividade surgiu através da arte, na década de 1960, com a chamada “obra aberta”. Encontramos, como um dos melhores exemplos dessa obra, o “Parangolé” do artista plástico Hélio Oiticica, que rompe com o objetivo de somente fazer da arte um mero transmissor, tornando o público apenas espectadores contemplativos. A intenção de Oiticica foi promover a participação na criação da obra, que não estava acabada e, sim, disposta a modificações e manipulações, em que o “participador” inscreve “sua emoção, sua intuição, seus anseios, seu gosto, sua imaginação, sua inteligência“ (SILVA, 2004, p. 4). Apesar disso, o termo interatividade só veio realmente à tona e a tornar-se conhecido com a chegada das novas tecnologias a partir de 1970, sendo considerada por pesquisadores, como Machado (2001) e Lemos (2004), não como uma inovação, mas, sim, como uma ampliação na relação homem-máquina. Segundo Lemos (apud PRIMO e CASSOL, 2004) “o que se compreende hoje por interatividade é nada mais que uma nova forma de interação técnica, de característica eletrônico-digital, diferenciando-se da interação analógica que caracteriza a mídia tradicional”.

Para Lemos (2004), há três níveis de interação: a interação técnica, tipo analógico mecânico, que se refere a uma relação do homem com a máquina propriamente dita, com os botões de um teclado, por exemplo; a interação técnica, tipo eletrônico digital, em que não há a interação apenas com o objeto, mas com o conteúdo, no qual a interatividade permite alterações diretas nas informações que as ferramentas lhe oferecem; e, além dessas, há também a interação social, denominada a relação homem com o mundo. Com isso, percebe-se que Lemos não considerava as novas tecnologias como criadoras da interatividade, mas como mediadoras na evolução da mesma.

Steuer citado por Primo e Cassol (2004), por exemplo, considera como interatividade apenas a provinda das novas tecnologias, limitando-se unicamente à relação homem-computador e entendendo-a como interação em tempo real, ou seja, apenas a ação instantânea do usuário que altera o ambiente, afirmativa essa que se opõe a Lemos. Para este último, as mídias tradicionais, como o rádio, a televisão ou os livros, impõem uma interação passiva, havendo somente a recepção de informações, com pequenas escolhas entre o que já está programado para ser transmitido. As tecnologias digitais, ao contrário, distinguindo-se das anteriores, propõem uma nova forma de transmissão de informações descentralizadas e não definidas, no qual todos são emissores e transmissores simultaneamente.

Dessa forma, “acompanha-se então, uma passagem do modelo transmissionista ‘ÜM-TODOS’, para outro modelo, ‘TODOS-TODOS’, que constitui uma forma descentralizada e universal de circulação de informações”. (PRIMO e CASSOL,  2004).

Como exemplo dessa interação “TODOS-TODOS”, existente nas tecnologias síncronas, temos hoje a Internet (LÉVY, 1999). Por ter um alto potencial de interatividade, ou melhor, por ser a interação propriamente dita, esta auxilia na promoção de verdadeiras comunidades virtuais, que são definidas, de acordo com Rheingold (apud FREITAS, 2003), como redes eletrônicas de comunicação interativa, organizadas em torno de um interesse ou uma finalidade compartilhados, ajudando muito no aumento dos cursos a distância.

Devido à crescente demanda por formação continuada e procurando supri-la, dando suporte a essa modalidade de ensino, surge, assim, a necessidade do uso das mídias telemáticas, pelo fato destas apresentarem a possibilidade de manter, de forma simultânea e fácil, a interação aluno-professor, além de romper com as barreiras de espaço e tempo, dando, assim, início aos cursos online. Estes se constituem basicamente de uma variedade de multimídias, de possibilidades de trocas de mensagens síncronas e assíncronas e de uma lógica não linear, sendo essas possibilidades responsáveis por um maior nível de interatividade nessa modalidade de ensino.

Para a realização de cursos a distância nos ambientes de ensino online há a necessidade da utilização de diversas ferramentas que estão divididas em síncronas e assíncronas. Nas síncronas a interação ocorre em tempo real, simultaneamente, ou seja, o aluno e professor interagem no mesmo momento cronológico.

A exemplo dessas ferramentas, temos o Chat ou Bate-papo, nos quais os participantes, com novas identidades e avatares, enviam e recebem mensagens coletivamente ou até mesmo reservadamente. Esse espaço pode ser muito bem aproveitado nos cursos online, sendo utilizado para discutir os textos lidos e tirar dúvidas, tendo um melhor rendimento quando realizado com um grupo pequeno, limitando-se no máximo a quinze integrantes, pois, dessa forma, diminui-se a chance de haver excesso de informação relacionada ao assunto ou não, ocorrendo, assim, a não dispersão do mesmo, facilitando a interação e proporcionando, também, a oportunidade de todos participarem.

Outra ferramenta relevante, considerada uma das melhores, utilizada em tempo real, é a videoconferência. Esta permite aos participantes de diversas localidades conversarem simultaneamente não por uma via textual, como a Chat, e sim áudio-visual. Nos cursos de EAD os alunos e professores podem ter um contato visual, percebendo todas as ações e reações expostas durante a interação. Essa ferramenta permite a locomoção do usuário por diversos lugares sem a necessidade de gastar com viagens. Mas não é uma realidade popular devido aos grandes custos com o material necessário: placa processadora de som e imagem, câmara, microfone, dentre outros, além de uma infra-estrutura de telecomunicações adequada.

Nas ferramentas assíncronas, a interação não é simultânea. As trocas de texto e mensagens entre as pessoas ocorrem de acordo com a disponibilidade de tempo de cada uma. Como exemplo desse tipo de ferramenta, temos o e-mail, dentre os demais, o mais conhecido e utilizado.

A comunicação ocorre através de transferência de textos e mensagens entre as pessoas que apresentam endereços individuais, podendo, também, haver envio de mensagem coletiva se esta for mandada para mais de um endereço, assemelhando-se à dinâmica de uma lista de discussão, já que há um grupo de endereços cadastrados em um único endereço, facilitando o envio da correspondência. Já nas listas de discussão a comunicação pode ser controlada quanto à transmissão de informações que não correspondem a um determinado assunto que está sendo discutido, ou pode ser livre, ou seja, sem restrições, dependendo da forma como o moderador a determina quando a constrói.

Assim como o e-mail e listas de discussão há também o Fórum. Este apresenta espaços apropriados para discussões de diversos assuntos, em que os participantes colocam suas opiniões a qualquer momento, estando os assuntos divididos em temas e as mensagens organizadas de forma seqüencial a fim de serem facilmente identificadas.

Há também ferramentas para construção de textos em grupos: o TWiki, por exemplo. Nessa ferramenta assíncrona, há a troca entre diversas pessoas para o desenvolvimento de trabalhos coletivos, ou seja, há uma composição dinâmica do conteúdo. Um texto pode ser escrito e reescrito por diversas pessoas, qualquer um tem acesso ao texto, podendo modificá-lo ou completá-lo como bem entender.

 

 

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1. Um passeio no ciberespaço: conhecendo os AVAs

2. Percepção da interatividade e ferramentas interativas (em espaços virtuais)

3. Visão de comunidade

4. Considerações sobre uma vivência nos ambientes TelEduc e Moodle

5. Referências.