3. Visão de comunidade

Quanto à nossa visão sobre as comunidades virtuais, podemos afirmar que são notórias as mudanças ocorridas nos padrões clássicos de interação e relacionamento humanos, que foram reeditados a partir do surgimento dos ambientes em rede, possibilitando novas construções sociais e/ou relações produtivas, como a construção de comunidades que se “encontram e trabalham virtualmente através da rede mundial de computadores” (MATTA, 2003, p.398).

A investigação do conceito Comunidade Virtual nos remete às bases da sociologia, bem contextualizada por Recuero, ao demonstrar que, na visão de autores da sociologia clássica, o conceito de comunidade estava baseado na orientação da ação social, envolvendo inter-relações emocionais e afetivas em seu âmbito. A autora descreve que, para Weber, “Chamamos de comunidade a uma relação social na medida em que a orientação da ação social, na média ou no tipo ideal, baseia-se em um sentido de solidariedade: o resultado de ligações emocionais ou tradicionais dos participantes". (WEBER, apud RECUERO, 2002, p.2)

Para contextualizar as comunidades, Recuero também se baseia em teóricos contemporâneos, como Rheingold, um dos autores que se apropriaram do termo Comunidades Virtuais, para definir os indivíduos/sujeitos que concretizam relações sociais no ciberespaço por tempo suficiente para constituir “sentimentos humanos”, como vínculos sócio-culturais de colaboração e afetividade.

Matta (2002, p.386) enfatiza que, apesar de terem um encontro virtual assíncrono e independente da posição geográfica, “as comunidades são reais e não virtuais e seus efeitos e influencias são concretos”. Essa afirmação torna-se mais perceptível quando nos deparamos com comunidades de práxis como as de aprendizagem, entretenimento (muito comum entre os jovens) e as que fomentam a produção de materiais, tendo essas comunidades a Gestão do Conhecimento. É como destaca Nina e Teixeira Filho (2004), ao afirmar que “... a popularização da Internet e das comunidades virtuais vem ao encontro da abordagem da Gestão do Conhecimento, favorecendo o estabelecimento de uma cultura favorável ao compartilhamento de experiências, conhecimentos e melhores práticas nas organizações.”

Assim, tendo Matta como referência, nos interessa a concepção de que os partícipes destas comunidades são capazes de manter diálogos e tomar decisões, encontrar soluções, isto de forma colaborativa, que talvez contemplem apenas um participante, mas que envolvam os integrantes da comunidade como se estivessem em um mesmo local.

É de grande valia fazermos aqui uma breve referência às comunidades de entretenimento como, por exemplo, o Orkut. É um sistema, ainda em protótipo, criado em fevereiro de 2004 por um funcionário da Google, Orkut Buyukkokten, turco de 29 anos. Pode ser caracterizada como uma ferramenta para construção de rede social, o "social network". Sua estrutura de funcionamento é simples, usual para um Ambiente Virtual; nele, só se pode entrar com convite, o que evidencia uma organização sociocultural e afetiva, com leis e códigos desenvolvidos no e para o ciberespaço, como se todos fossem de alguma forma ligados. Parece muito com a lógica vista no poema, onde Orkut lembra: Maria que adiciona João, que adiciona Helena que é fã de Orkut que vai adicionar mais alguém.

Os usuários também podem se organizar e criar fóruns de discussão sobre temas variados. Uma razão para o sucesso desse fenômeno é o fato de que essa rede virtual está baseada nos relacionamentos e negócios que se desenvolvem e se concretizam também fora do ciberespaço. A liberdade de relacionamentos é maior, mas a coisa acontece com alguma organização já que a comunidade formada tem moderadores e até regras de comportamento ou punição. Mesmo assim, as possibilidades de inter-relações atraíram até pessoas que antes não eram ligadas à Internet.

Questiona-se o porquê de um provedor como o Google apostar nessa experiência. É possível afirmar que o poder de conhecer mais do que uma resumida ficha de perfil com e-mail e endereço dos usuários, clientes em potencial das empresas que contratam o Google, é um motivo significativo para esse provedor acreditar em uma experiência como o Orkut. Desta forma, faz-se necessário saber gerir, com equilíbrio, este poder de informação, para não descaracterizar o papel de inter-relacionamentos próprio das Comunidades Virtuais.

Também não se deve perder de vista o papel do sujeito nesse espaço, sendo que uma comunidade virtual de práticas não toma impulso se os participantes não se tornarem autônomos e ativos, além de manterem uma dinâmica de disseminação e compartilhamento de conhecimento como base dessa comunidade. De acordo com Nina e Teixeira Filho (2004), visando destacar a contribuição de comunidades virtuais para o desenvolvimento da sociedade em todos seus setores, a formação de uma cultura de colaboração "pode preexistir ou ser enfatizada pela criação da própria comunidade".

 

        Trilha para uma possível navegação          

          

           0.  Home

1. Um passeio no ciberespaço: conhecendo os AVAs

2. Percepção da interatividade e ferramentas interativas (em espaços virtuais)

3. Visão de comunidade

4. Considerações sobre uma vivência nos ambientes TelEduc e Moodle

5. Referências.