(1) A co-laboraÇÃo na/em Rede (5) CooperaÇÃo e co-laboraÇÃo
(2) Fundamentos histÓrico-culturais (6) A co-laboraÃo de/em programas livres
(3) Desafios contemporÂneos (7) Interfaces otimizadoras
(4) Co-laborando o aprendizado autÔnomo (8) Co-laborando um texto À seis mÃos
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(7) Interfaces otimizadoras da co-laboração na/em Rede

Atualmente existem na WEB diferentes interfaces assíncronas e síncronas que podem atuar como ambientes para o ensino-aprendizado e potencializarem empreendimentos pedagógicos na perspectiva do trabalho colaborativo. Uma dessas interfaces é o Wikipedia- uma enciclopédia que pode ser acessada livremente permitindo aos seus usuários incluir, alterar e/ou excluir informações. Este empreendimento pedagógico co-laborativo vem sendo produzido por pessoas falantes de 80 diferentes idiomas, a exemplo do inglês, português, espanhol, alemão, francês, italiano e japonês entre outras línguas.

Só na língua portuguesa, por exemplo, é possível encontrar mais de setenta e nove mil artigos sobre diferentes temáticas, constituindo um e-livro vivo, inacabado, em constante transformação, escrito a muitas mãos, do qual todos podem vir-a-ser autores. A Wikipedia baseia-se na lógica do Wiki - um programa ( software) colaborativo que  permite a edição coletiva de documentos.

Uma outra extensão do Wiki é o TWiki caracterizada como “uma ferramenta de escrita colaborativa na WEB, que consiste em possibilitar que várias pessoas separadas geograficamente interajam, criando conteúdo utilizando apenas um navegador. Através do TWiki, é possível desenvolver documentação em formato de hipertexto através da Web.” [1]

Estas interfaces vem sendo utilizadas particularmente no cenário acadêmico como espaço para discussão de categorias teóricas e construção coletiva de projetos e idéias sobre diferentes temáticas. O Wiki é disponibilizado no ambiente Moodle, nas versões 1.4 e 1.5, viabilizando a formação de uma escrita colaborativa em cursos on-line e à distância.

Assim como o Wiki, o programa Equitext - criado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - possibilita também a construção de textos coletivos, permitindo aos seus usuários incluirem, excluírem e alterarem documentos. Porém, apesar do desenvolvimento de inúmeras interfaces que potencializam a escrita colaborativa, os participantes de CVAs ainda encontram dificuldades em produzir documentos - talvez pelo medo de se expor, de melindrarem os pares ao interferirem em um texto originalmente não criado por eles. Constata-se, por exemplo, com alguma freqüência, que as produções terminam se configurando em uma grande colcha de retalhos -  subutilizando portanto, todo o potencial criativo e co-laborativo dessas ferramentas.

Tal constatação pode sinalizar que os sujeitos não imergiram plenamente ainda na lógica das ferramentas que convidam à uma interlocução coletiva, na qual todos podem – e devem - modificar o texto de todos. Ora, a um texto efetivamente produzido coletivamente não se pode atribuir uma única autoria. Em outras palavras: não existe o “meu” texto, mas o nosso texto.

As intervenções na produção coletiva no Equitext, por exemplo, embora sejam adicionados individualmente, revelando o nome, dia e horário de quem introduziu a última modificação não pertencem a ninguém em especial: todo o grupo é responsável pelo texto!

Vale a pena lembrar que, atualmente, existem empreendimentos co-laborativos de e-livros nos quais o leitor pode interagir livremente com o material à medida em que um autor desenvolve um argumento. O escritor brasileiro Mário Prata coordenou/divulgou o processo de criação do livro Anjos de Badaró , por exemplo, na/em Rede. Isso permitiu que internautas pudessem acompanhar a elaboração de cada parágrafo do texto, opinando e interferindo no curso do enredo e da argumentação do autor.

Apesar do surgimento de variados suportes para a co-laboração de textos na/em Rede, observa-se que o seu uso pedagógico ainda é limitado não só por insuficiente desenvolvimento/aperfeiçoamento tecnológico mas sobretudo por esbarrar em preconceitos e resistências presentes na cultura escolar. [2]

A interface Webquest, por exemplo, é mais um desses ambientes com potencial para o desenvolvimento de práticas colaborativas na WEB. Esta ferramenta fundamenta-se pedagogicamente no aprendizado colaborativo e em processos investigativos (ensino com pesquisa) para a construção de conhecimentos e saberes.

Fóruns e listas de discussão, por sua vez, podem também viabilizar construções colaborativas - particularmente por agregarem pessoas que têm interesses comuns e que se encontram engajadas na discussão de temáticas específicas.

Embora todas essas ferramentas venham rapidamente apresentando novos e variados recursos para a interação é preciso reconhecer algumas das suas limitações tecnológicas – como o fato de não proporcionarem aos seus usuários o amplo uso multimídico de dados.

A hipermídia, multimídia e intermídia caracterizam-se pela “montagem” ou convergência de várias mídias e solicitam o desenvolvimento de uma “nova” linguagem – em razão da integração qualitativa de seus elementos semióticos constituintes. Essa hibridação curiosamente produz uma “nova” modalidade de comunicação que até há bem pouco tempo atrás era ainda inexistente. Portanto, emergem processos de sinergia entre diferentes linguagens e meios de comunicação. 

No entanto as ferramentas de comunicação síncronas (em tempo real) e assíncronas que trafegam nas CVAs ainda estão na quarta geração das mídias. Apesar da diversidade de meios para efetivar e potencializar a comunicação em/dos grupos, constata-se que alguns membros optam por unicamente observar o que acontece, exercitando assim a sua pulsão escópica, o seu desejo de ver. [3] Freud entende esta pulsão como fundamental para despertar o desejo de saber. Ora, o sujeito que mantém-se aferrado à esta pulsão, em uma CVA, termina por não participar plenamente da atividade co-laborativa potencializada por/nesses ambientes. São os vulgarmente conhecidos por “absorventes” ou “Bob-esponjas” J

O trabalho colaborativo na WEB – já se disse antes - solicita o envolvimento de todos os membros do grupo e vai muito além da distribuição de tarefas (cooperação). A atividade co-laborativa origina-se e desenvolve-se em uma dimensão coletiva, comunitária. Isso pressupõe a reciprocidade, a co-criação e sobretudo a interferência (intervenção) por parte de todos no desenvolvimento de enunciados e ações em processo initerrupto de ressignificação.  

Nos processo genuínos de co-laboração todos encontram-se na condição de aprendizes e de educadores, isto é, todos os membros do e-coletivo podem e devem atuar como auxiliares para a emergência de uma inteligência coletiva no grupo. Isso só se torna possível no entanto a partir da autonomia cidadã e da emancipação intelectual dos sujeitos.