(1) A co-laboraÇÃo na/em Rede (5) CooperaÇÃo e co-laboraÇÃo
(2) Fundamentos histÓrico-culturais (6) A co-laboraÃo de/em programas livres
(3) Desafios contemporÂneos (7) Interfaces otimizadoras
(4) Co-laborando o aprendizado autÔnomo (8) Co-laborando um texto À seis mÃos
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(6) A co-laboração de/em programas livres

Um software livre (programa de computador livre) não é apenas gratuito - já que alguns programas proprietários também o são.  O que distingue um software livre de um software proprietário não reside exclusivamente na ausência de preço, mas na liberdade de uso - a liberdade de copiá-lo, a liberdade de modificá-lo e a liberdade de sua ampla distribuição. [1] (SILVEIRA; SILVEIRA).

Ao adquirimos um software livre (seja sistema operacional, aplicativo ou qualquer outro tipo de programa) através de uma cópia ou download [2] temos posse sobre o intangível. O programa passa a ser de quem o adquiriu, incluindo a possibilidade de copiá-lo ou alterá-lo. As quatro liberdades que caracterizam o software livre são: (1) a liberdade de uso - a utilização do programa é livre, não haverá restrições com relação ao número de instalações; (2) a liberdade de copiá-lo - quando utilizamos software livre (instruções digitalizadas de como a máquina deve agir) podemos copiá-lo para um segundo ou terceiro hardware (componentes físicos da máquina ou equipamento); não há nenhuma restrição quanto à quantidade de máquinas a serem contempladas com o programa, assim como não há necessidade de se pagar pela quantidade total de instalações (no caso de sua aquisição não ser gratuita); (3) a liberdade de modificá-lo - ao utilizar software livre, temos acesso ao código-fonte [3] e, através dele, podemos realizar mudanças no programa (evidentemente haverá necessidade de conhecimento de programação para realizar esta tarefa). Em um software proprietário o código-fonte não será disponibilizado; (4) a liberdade de distribuição - assim como não há restrição para cópias do programa, sua distribuição é conseqüentemente livre.

Além das quatro características apontadas acima a legitimidade do software livre se faz através da Licença Pública Geral do GNU. [4] O GNU é um projeto [5] da Free Software Foundation, [6] fundada por Richard Stallman no ano de 1983. É de grande importância que o software livre esteja registrado no GNU, pois este registro se constitui em uma proteção para quem o está adquirindo. Já a licença ou direito de uso do software proprietário é uma proteção para quem o desenvolveu/produziu. No que se refere ao usuário, este último não pode compartilhá-lo, nem alterá-lo. 

No caso do software livre, o usuário tem a permissão e o direito de acessar o código fonte e modificar o programa (por exemplo, inserir novos recursos, traduzir textos, retirar “bugs”, atualizar a compatibilidade com novos hardwares, adaptar-se a novos ambiente de rede etc). Não há restrições para seu uso, exceto, vendê-lo ou utilizá-lo para o desenvolvimento de atividade comercial. O direito concedido a este usuário-(re)criador configura-se em duas etapas denominadas: (1) licenciando o software (2) oferecendo a permissão legal para copiar, distribuir e/ou modificar o software.

A Licença Pública Geral do GNU revela um processo co-laborativo e cooperativo de uso do programa, respaldado pela liberdade legítima de autoria. [7] Assim, o software livre fornece a sensação de liberdade ao seus eventuais usuários - expressa no caso através da disponibilização do programa com permissão de uso, reprodução, alteração e distribuição.

Através do desenvolvimento de trabalho pessoal e criativo dos seus usuários o software livre pode tornar-se um programa enfim redimensionado por diferentes grupos - uma coletividade heterogênea espalhada por todo o mundo e interligada pela Rede, um grupo movido pela co-laboração denominado de comunidade.

Esta comunidade é responsável pelo desenvolvimento, testes, acertos, divulgação e compartilhamento dos programas, de acordo com a GPL (Licença Pública GNU). Não há uma regra rígida ou determinada: é um trabalho onde a participação de/em grupo é marcante. Os programas são incrementados e disponibilizados para que possam ser testados. A cada erro encontrado a comunidade engendra os esforços necessários para a sua correção e isto acontece nas traduções, na geração dos manuais/orientações. A comunidade, de acordo com a vontade e disponibilidade de cada um, divide-se em grupos para desenvolvimento, testes, documentação/tradução, compartilhamento/divulgação. Tudo isto configura um processo significativo, no qual as sucessivas etapas desenvolvimentais se apoiam mútua e continuamente até maior aperfeiçoamento e otimização dos programas.

Esses aspectos podem ser observados nas ações e no desenvolvimento participativo dos sujeitos, que se unem em comunidades. [8]  Essas comunidades são representadas, geralmente, pelos participantes que conseguem maior trânsito junto ao grupo - entretanto nada impede que qualquer membro possa vir a assumir  a coordenação da comunidade, até porque a liderança não se concentra em apenas um sujeito.

Um exemplo interessante e significativo é a comunidade MOODLE, [9] que cotidianamente discute e desenvolve novas possibilidades para este ambiente. O Moodle é um Learning Manager System/LMS (sistema gerenciador do aprendizado) open source, dinâmico, modular e orientado a objetos, desenvolvido por Martin Dougiamas, em 1999, na Curtin University of Tecnology em Perth, Austrália. Sua característica de programa de fonte aberta (Open Source Software/OSS) permite que o Moodle possa ser instalado, usado e modificado por diferentes organizações sem grandes custos. Pode-se inclusive até mesmo distribuí-lo - evidentemente nos termos da General Public Licence/GPL.

O Moodle está presente em cento e vinte seis (126) países e é utilizado por cinco mil, novecentos e quarenta e oito (5948) organizações em todo o mundo. No Brasil, esta plataforma de ensino on-line vem sendo utilizada por mais de duzentas organizações.

O Moodle e o Linux, entre outros programas de fonte aberta se constituem em exemplos de trabalhos colaborativos na WEB que materializam o processo de produção coletiva de novos conhecimentos.

Provavelmente em razão disso e pelo fato de ser “livre” - o SGA MOODLE encontre-se em processo de uso e investigação por parte de algumas IES públicas e privadas com sede na Capital baiana (é o caso, por exemplo, das Faculdades Jorge Amado/FJA, Faculdade de Tecnologia Empresarial/FTE e das Faculdades Integradas da Bahia/FIB.

Uma característica importante do Moodle - se e quando comparado a outras plataformas SGC [10] - é  sua fundamentação pedagógica: o “Moodle é orientado por uma particular filosofia de aprendizagem, uma maneira de pensar que pode ser simplificadamente chamada de ‘pedagogia social-construcionista.'” [11]

O social-construcionismo, de acordo com o professor doutor Athail Rangel do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, postula que todo aprendizado eficaz sempre resulta na construção de algum artefato passível de uso por parte de outros - uma anotação, uma mensagem eletrônica, uma imagem ou programa para computador, por exemplo.

O professor Rangel informa-nos ainda que o Moodle teria sido concebido originalmente para atender às solicitações de um aprendizado (co)laborativo reivindicado pela pedagogia social-construcionista: “um grupo de pessoas construindo coisas umas para as outras, criando de maneira colaborativa uma pequena cultura de coisas compartilhadas com significados compartilhados.” [12]